quarta, 28 de janeiro de 2015

Qual nudez mais completa,
mais absoluta
onde houvesse só o desejo –
nem de longe nada de pessoal

onde não houvesse impressão a passar
a ninguém
nem sequer um espelho,
um só reflexo do Sol contra meu corpo
refletido intenso
no azulejo preto dessa parede

qual nudez,
absoluta?
sem que houvesse
qualquer identidade, nenhuma casca
de nenhum sabor

onde não restasse qualquer nome,
qualquer eu,
onde não tivesse
o que querer demonstrar,
nenhuma forma de fingimento,
nenhum apego – próprio ou alheio

qual nudez absoluta?

com quais dedos,
com quais letras ou joelhos,
posso despir essa nudez?

como se chega, como se toca,
nas intimidades dessa falsidade?

esse honesto ilusório,
este rosto ingênuo,
frágil, que engolisse
toda luz que lhe chegasse