quinta, 1 de novembro de 2018
a chuva rara
na ladeira de pedra
já são quatro horas
no ritmo
aflito
dias de sol
caveiras de açúcar
e as horas
mas já não são chuvas raras
na pedra
disforme
da pele
do morro
porta adentro
na terra do quintal
a pedra seca
desponta
esfarela
o morro e as mangueiras nas mãos
o vermelho goteja
de fruta no seu dorso
da casa os meus olhos
são como madeira
sem verniz
sem tintura
disparam para o céu
recôncavo
na grama rasteira
sou a formiga e o formigueiro
ninguém de novo
entre o falo e a faca
quisera
a cruz e a espada
com a clareza da história
sou eu de novo —
como um fantasma
vertebrado por acaso
olhos no prêmio
memórias de mitos
encartes em chamas
na minha virilha vazia
ralas lembranças
natais em família
teria já
deixado este mundo?
de novo
no rastro fácil da cobra
o vício me fecunda
e desova
são dobras curvas e fracas
no cimento impreciso
sob o falso piso de ardósia