sábado, 18 de janeiro de 2020
depois da meia-noite
sugo as letras até o silêncio
expulso os anjos e santos
exorcizo de deuses e espíritos a terra
e dela nasce a morte de novo
a morte morna
a morte presente
morte com a qual
sabe-se fazer parte
morte que não
se traduz em ansiedade
a morte próxima
a morte ao lado
e vendo
sempre sendo reexposta
à dualidade
ideia podre de pecado
é o entrave
queria não ver pastores
não falar ou reclamar de igrejas
preferia
mas quando estão te ateando fogo
e você arde em gasolina
quando seu som e o seu papo
é considerado por demais pesado
quem diria...
é triste saber que não querem ouvir
uma mensagem tão tardia
e preferem portanto
que alguma história seja repetida
preferem crer
no formato já dado ou algum mero reparo para fins de convívio diário mas nada que realmente derrube os portões
estoure cadeados \
foi esta morte ansiosa
que matou a poesia
a botou a discorrer
sobre as notícias do dia
mas as guardiãs se lembram
e acordam todo dia
repetindo
pra que a aresta da faca
sempre fique fina
é
alguma luz
luz que atravessa
escreve e recita
dizendo: tudo bem ter medo
fazendo o ninho de espetos
que por dentro de fato aninha
dizendo: é bom ter um meio
de poder se defender
escreva para alguém mas
escreva pra você \
eu
sempre me desfaço
mas por ser necessário
infelizmente é caro
mas porque quem cobra é ela
a morte senhora
e para ela
o fio é um só
pague todo o preço não deixe
se perder contando as bolas de um terço
não deixe
sobrar nem um pedaço porque vai se arrepender
olhe no rio não são espíritos soprando no teu ouvido são
os olhos da vida olhos da morte dizendo-te pra quê
escolha por entre os fios confusos e ache o final
quem está lá
pra dividir contigo
na vida real
o peito cheio de ar e então
saber disso, pronto
diziam assim: pronto
lembro e lembrar é onde começa
é real
só nota de fato
diga que eu falo
não perca a memória
que a língua é que aprende
coloca e consome
o quanto de sal \