terça, 11 de fevereiro de 2020

jogando ácido
e não bebendo
guardando fora
e não dentro
antes louca do que ajustada, sim
mas por vontade e potência
e não por culpa
achando
e não procurando
exibindo
e não consertando
porque
basta o que estou fazendo
eu mesma sei
quando me canso
ser consolada
dar consolo
pode ser também uma forma
de voltar sempre ao mesmo ponto
não quero alimentar esse sentimento
romanticristão
desde Roma
bandeira fincada
bandeira em chamas
bandeira na mão
não vim ser nada mais
que isso
uma fogueira onde arde
todo idealismo
se houver amor
que seja um amor feito do reverso disso
brotado dos túmulos
por dentro dos muros
caídos
não é amor ressuscitado
mas amor nascido
amor mutação
escolha do tempo fruto da ação
da terra molhada amor que não foi
invenção
calaboca
amor silêncio pra arrastar os dias
amor silêncio pra contar as notas e os pratos
amor silêncio motor ansioso murro na faca de dois gumes
amor auto-ódio auto-amor invertido
amor que prepara o descarte
ao não ver
o sujeito vivo
amor que não leva a sério
cada sintoma gravíssimo
amor que já foi
vendido e revendido
amor que não vê
futuro
amor como uma caixa onde não cabe
nada de negativo
nenhum pedaço desse ódio
que eu sinto
eu sinto
em mim não há só dois polos mas se nem isso
couber em um amor fixo
não quero
grandes verdades quero
apenas isso
ler o poema e sentir
alívio
mesmo passando por dentro
do túnel incrédulo
aos risos
por cada dedo que se aponte
eu divido
mas uma vida inteira não cabe
em um único ouvido
acabei de chegar
e já estou indo
dor é só
romantismo
não tem nada
de recíproco
pedra dura
no caminho
forrado de panos
para o teu pé mordido
tome destas letras
o teu poder divino
é vivo
sorriso incontido
forte calor sugando
a parede
a fundação
e o teto de vidro