quinta, 8 de setembro de 2022
vergonha é uma dívida
muitas vezes
cobrança indevida
Quarto Crescente
derruba do céu
um sorriso
deixo contigo
finalmente
O Tempo passar
um vídeo que nos faça chorar
enquanto parece
que até os deuses estão com fome
minha água escorre
por cima da tela
ao menor sinal de empatia
é tão básico sentir
é tão básico
dar risada
Lua Cheia
é só a quinta vigília
e ontem o céu já chorava
para mim era eterno mas foi
um único dia
não estou mais cansada
de virar cinzas
eu as abraço e me decoro
seja incêndio ou comida queimada
seja fracasso ou mais um email dizendo
pelo seu interesse obrigada
não vou mais correr atrás
do tempo pequeno, da notícia parada
quero ouvir a voz daquela mulher
que para, senta e pensa
que levanta, fala e age
O Tempo, Senhora, e a História
são garras que pousam,
se fincam,
e decolam
não é, não foi
sobre lógicas passadas
racismo algorítmico
burotransfobias
neurocortadas
colonialidade, epistemicídios, entre
outras palavras
que irritam os ricos
você lembra?
rinasce più gloriosa
e mais sutil
do que com a autoestima equilibrada
na performance -- da aparência ou do trabalho, eu
me cultivo de novo
me replanto e adubo
eu me transplanto a cada vez
que aqui retorno, é
para meu próprio benefício confesso
preciso gravar
gritar ao anônimo
na ausência dos ecos
rinasce
più gloriosa
ou ainda aquela pergunta,
"morreria, se lhe fosse vedado escrever?"
não consigo mais crer
em sentimentos sublimes assim
apego
também é isso
eu vivo
para viver o visível
o corpóreo, o que inspiro respiro transpiro
não me olhe
e veja algo distinto
jamais iguais
vínculos ancestrais
eu disse: veja bem, eu sou isso
mas me respondeu: onde está o laudo e o carimbo?
não há
dinheiro que pague o atrito
de que só com papeis eu existo
será mesmo
que não poderia mexer um dedo antes disso?
me irrito
com seu olhar passivo
esperando a palavra de um médico
patético
com ideias datadas
antes de Cristo
te esgotam
psicomplacismos
ciências recentes
tabelionatos psíquicos
eu escrevi naquele dia
outro poema críptico
mas foi segurando nele
que me levantei
e destravei os gatilhos
a água escorreu
lavando a poeira e o mijo
foi
o cheiro do cloro
me lembrou que vivo
nem sobre
este ou aquele pecado
mas a vontade eterna
de doar só a metade
de anular e esquecer
ter pavor de assumir
seu próprio legado
dar
importância excessiva
paralisa
essa
é a minha análise
pela parede as formigas
se trombam e se ajudam
se conversam se encontram
profundamente caladas
mesmo se forem pisadas
caminham sem nem
um segundo de luto
requento
o café mais um dia
me alimento
como uma criança sozinha
e são
treze horas de novo
é hora de renascer
mais uma vez
retorno
eterno
retorno