quarta, 28 de dezembro de 2022
não vou carregar
meu ser
não vou tentar consertar
remoer
linha nenhuma
ligando esta morte e a próxima
só
deixar morrer
cada novo nascimento
sem chorar
só navegar no tempo
sem medo
do apego
de pisar formigas
esmagar baratas
escondidas
atrás da pia
a ânsia de sair de casa
comprar
abobrinhas com
agorafobia
a única continuidade
está
entre essa e aquela poesia
os riscos
me lembram
de viver sem alma
lembrando do que resta
abstrato, concreto,
sem essências
só o que importa
por pura necessidade
um coração
aflito
não precisa ser limpo
nem puro nem ungido
para abrir
não precisa ser curado pode ser
tratado
não poderá talvez ser
ressignificado precisará
desaprender
não poderá talvez ser
transformado precisará
desencontrar
o começo
o lugar onde falava
sério
foi o que buscou e evitou todo o percurso
era da onde
queria fugir a todo custo
e onde
desejou chegar com toda sua força
o lugar
onde deitar
e saciar a fome
onde sentir
comunicação
escuta
compreensão
reconhecimento
o espaço
onde tivesse seu próprio ritmo
onde desse as mãos ao Tempo
o lugar... paraíso
neste mundo, esta vida
onde
essas palavras foram lidas
e digeridas
sem o propósito
de fazer crítica
de avaliar
qualquer julgamento
tecer só
teias
transparentes linhas onde pudesse ser
acolhida
da sua queda
livre
não borboleta --
traça
dentro de livros e roupas velhas
um longo inverno neste casulo
surtiu efeitos