quinta, 29 de junho de 2023

talvez você não queira ouvir essa voz talvez você a perceba como uma lágrima transparente sem muito o que deixar de rastro ou como o suor de um esforço que tivesse morrido na praia mas não é está mais para a bile ácida de um vômito ou o pus de uma ferida que foi muito cutucada veja ao mesmo tempo ela é cáustica e neoclássica assim mesmo tanto acadêmica quanto querendo que a mata derrube as paredes da sala de aula nem cínica nem platônica mais blasfêmia que sagrada e por isso talvez você não queira ler essa palavra mas ela é gástrica é um refluxo ela volta garganta acima feito um gêiser ou um jato de lava não pode atrasar ou pra esquentar seu banho ficar contida e represada quando finalmente explode deixa até as narinas uma sensação amarga que não passa nem com água nem com bala talvez você não queira sentir essa palavra mas não há como evitar quando o corpo expele algo estranho ao seu plasma ter de ler e ouvir tanta merda amordaçada ter de somatizar a bravata de um senhor escondido em sua casa pelos fios e ondas de rádio tanta técnica para transportar crimes e mágoa projetada covardia mais um dia exigir que ela fosse como uma jovem fada pronta ao consumidor dar de consumir sua aparência plástica e a sensação tão fina e frágil da inocência preservada tão sensível à culpa tão pronta a julgar culpada quando grande e poderosa é uma monstra endemoniada quando pequena e fraca não serve pra ser contratada talvez você não queira ver a minha cara surtir os meus efeitos ou sentar na minha sala pode ser que não suporte mesmo uma única etapa minhas provas são longas e a nota cai tão rápida staccato o salto alto quebrado anti-diva contrarrainha o carão e a antipatia soprano desafinada mas sem rancor e nem delongas mais movimento e poucas palavras talvez você não queira responder essa página amassada ainda mais se a voz ficar assim tão embargada mas é inevitável não sou uma pedra que rola rio abaixo e continua calada nem ainda aquela estátua que pensou só derrubar e que ficaria assim ruína eternizada talvez você não queira perceber o desejo só o estável o plano o compreendido o que fizer sentido sem uma só linha contrária talvez seja de noite quando chegar na sua casa a mesma visão que deixou abandonada todo dia toda manhã quando ela acordava pra catar tuas migalhas e você jurava mesmo que era romântica sua labuta até demais dramatizada mas a dela nada mais que lei da selva nem de pedra mas pura sílica e puro lítio darwinista e meritocrática talvez nesse fluxo eu tenha sido derrotada mas a lança três seis vezes no ar já foi lançada o escudo todo gasto o meu ego uma piada já tinha feito tanto leilão daquela placa gasta tinha alugado e dividido em ações incorporadas de volta ao mesmo ponto a sociedade ilimitada incerta de tudo e da pureza liquidada as linhas no chão há muito atravassadas o primeiro e primário era olhar as trepadeiras e o jeito que ficavam debruçadas sobre antenas e coqueiros as suas folhas abraçadas não deixavam cair formavam como uma palhoça que era atlântica seca e molhada a visão ia sorvendo cada baque uma remada inevitável vírgula, um respiro o que importava: ver o musgo tecer a teia estar presente na batalha