segunda, 26 de fevereiro de 2024
talvez seja,
quem sabe?
nem teria percebido...
debaixo
de todo esse previsto, todo esse
pedido, desejado, tentativo, todo esse
vontade, voltado, volitivo, todo
esse
perdido,
achado,
devolvido
debaixo de tudo o que tentei
e que ficou
por cima do meu respiro
respiro
privado, talvez bastaria
nada do que é público basta
para tanto público desprovido
por que
a minha mão agora treme
segurando
na cara do papel
minha metralhadora de grafite?
talvez seja dor
não sofrendo, só
dizendo
talvez essa dor de romântica
não tenha nada, uma pequena lembrança
de sua vida atravessada
quem viveu
o privado?
o pessoal?
nem era preciso dizer
desde o primeiro
respiro
não por natureza,
por pura coerção,
era mesmo político
mas então
quanta resposta
tiro, tiro, tiro
restou
alguém para dizer: não
desta linha, do meu peito, um momento,
este respiro
não será político
algum sussurro
temeria
que aquele não ser seria
negação
ou comodismo
era apenas
alguém limpando o cano da arma
limpando o sangue seco
feito verniz
grudado na peixeira, do cabo até a ponta onde
despencavam seus calafrios
os momentos tão pequenos
espremidos
entre os quais não fingia ser explicada
explicável
feliz ou triste
talvez seja dor
o peito latejando
algo preso em seus pulmões
uma azia de anos
soterrada por fazeres, alguém a algo nomeando
adulta
tão adulta uma máquina
de moer farinha de comer palpites
talvez seja,
quem sabe?
o público disse:
aguarde que ligaremos
e o privado,
algo que me passou despercebido
talvez seja
muito mais básico muito mais
elementar muito menos
essência muito mais
carne muito menos
alma muito mais
tripas muito menos
tentativa muito mais
solidão
completa
absoluta
dessas que te permitem estar com alguém
talvez seja,
quem sabe?
dores alquêmicas
ouro,
incenso,
e mirra