segunda, 22 de abril de 2024

aleta acordou e esfregou seus olhos, sentia as remelas furando sua pele como agulhas e as empurrava para longe ou até que se esfarelassem. ela ergueu uma perna após a outra e olhou para o mundo primeiro. era a mesa onde estava a página três e cinco que com tanto cuidado reescreveu na noite passada. pegou e amassou os dois papeis e os jogou no lixo.

na sala pegou um livro favorito e o colocou no forno. acendeu com dois palitos ouvindo o som do fósforo como se coçasse um ponto inalcançável dos seus sentidos. sobre o fogão duas chaleiras uma com chá outra com o seu espírito.

todas as comunidades são tóxicas. elas quase sempre tentam reproduzir. reproduzir está ligado com alguma forma de continuidade. pertencer a uma comunidade tem o efeito deletério de acalmar a angústia. mas a angústia era como uma ligação então cortada com o meu potencial de ser eu mesma.

o egoísmo da massa não é o mesmo do patrão.

o chá estava quente e não havia mais nenhuma gota de mijo para pingar do seu corpo contra a água do seu sorvedouro de dejetos particular. ela puxou os fios do que parecia ser uma trança de fios de plástico arrebentada, que se espalhava em uma estrela feito aquela planta

de dentro do bule subiram borboletas de asas violeta, cor-de-rosa, marfim. elas pousaram por todas as paredes e cobriram sua sala enquanto ela virava um vapor de cheiro e calor somente. as paredes asas de borboleta tão frágeis tão translúcidas se desfizeram como um pó e nem vapor nem mesmo vento os seus olhares descansaram.