Imago, Subimago

segunda, 24 de junho de 2024

Talvez as luzes, a saturação quase nada, alguma fração de cor radiada. Quase nunca os matizes. As novas gerações mais conservadoras quanto as anteriores, só mais discretas, indo em lenta cocção até chocar o ovo da sua serpente incubada. Eu ouvia, com tédio e cinismo, um jovem estudante que gritava, sua boca sorvendo do mesmo espelho a saliva que eu já tinha cuspido e com a qual fui contaminada.

Eu mesma talvez inerte, se não era explosiva, contida então era a intenção violenta. Dada a destampar os ralos e neles esticar as mãos para puxar os pinos das granadas. Eram isso... armas. Novas armas, novas formas de ser enganada. Este espetáculo tinha novos cartazes, nos anúncios e na linguagem, algo dizia outras cores, mas eram palavras passadas, estavam escritas num constante abstrato, constante no futuro, fingindo o presente ser passado, pronto a destruir ideias e tornar os muros mais duros, a Terra mais salgada, o ar já rarefeito como uma areia irritada.

Eu via como uma vespa, uma libélula, ou só a crisálida. Nesse ar que também é luz onde eu me erguia e pisava. As minhas asas não eram a Liberdade, como se o chão fosse a prisão e o ar não uma outra água. Elas eram a força da minha vida, e uma breve chance de ser regenerada. Neste nanossegundo os meus nervos, seus seis sentidos, e os pares trançados: cibernese, telecinese, homeostase, um machado cortando as veias da testa de um criptofacho, clérico ou eco, consciente ou desavisado.

Uma vez pousada, como um nodo, um nexo onde todos os receptores fizessem o trabalho dobrado. Ali as minhas asas se encaixavam sob a casca e eu era como um besouro descolorido, o exoesqueleto condecorado. Alguns comem plantas, outros fungos, outros fezes, outros comem seres vivos, caçados ou parasitados. Cada um consciente: cogniza, percebe, considera e comparte.