quinta, 20 de fevereiro de 2020
um
o ódio abre todas as portas
eu uso meu ódio
pra fazer remédios
amargos antídotos
com a pele de sapos
com o ódio também se pode
fazer veneno
e defender-se
até matar
eu uso meu ódio
pra fazer remédios
amargos antídotos
pra mim mesma tomar
quando não estão prontos
às vezes derramo
por isso reclamo
o espaço total
o ódio abre todas as portas
dois
a bruxa boa
de novo se acendia
até que
algo distribuía mas veio
a bruxa ruim
puxou sua fantasia
de bruxa do bem
ela
já se conhecia
nasceu contentada-indignada rainha
foi criada todo dia
no fogo amargo mental
alguém disse a palavra família
lavaram com doutrina
qboa creolina
mas era bruxa do mal
nascida de outra igual
o olho dela é que dizia
pisando e cagando em cima
do estado episcopal
triunfos tambores cantorias
lanternas alegorias
sorriso ancestral
calma força que por dentro
tremia sua montanha cervical
nada há que apague
que introjete um veneno
nada universal
nem patrícias
nem milícias
nem a letra nem a ordem
nem o soco do machote
nem o grito alto volume
de quem ama o controle acima de todas as coisas
nem mil cisões e faixas
nem toda a força moralista
cancela é velharia
que venham mais mil atos
há tanto a derrubar
façam cumprir suas profecias
desafio seus deuses de supremacias
sua pureza angelical
seu silêncio de vergonha
pura vergonha sexual
de cima
dos seus saberes que estão mortos
mortos
e só quem já morreu
pode ter crise existencial
saia desse ciclo
intelectual
a dúvida é filha do silêncio
falar não é só gritar
não basta falar
se não ouvir ou pensar
ouvir com a boca
pensar mantendo-se louca
ação imediata
o olho que olha também tem
memória visual
não é instrumental
o corpo não é máquina digital
é acesso real
vulneráveldefensávelemocional
cada parte é integral
cortou a ligação não tem igual
não desperdice
se você vive
vivavivaviva não escolha um só lado ainda é pouco
o que chamam de transcendental
carnalespiritual
viva teus joelhos e seios
seus dedos e os seus ombros o osso na carne é primeiro
pede agora a vida viva
é de agora a viva vida
toda censura é ficcional
coma a comida
sinta o gosto do
açafrão
sinta o gosto
pimenta tropical
você merece o bom
não fique com o bem:
a culpa nos suga os real
vão te chamar: egoísta!
é o lado do mal
fico como uma garrafa vazia
esperando ajudar na alquimia
o poder é fatal
segura esse fornão
estamos aqui
preciso me concentrar
retomar os trabalhos
do cuidado
fechar o que foi aberto
abrir o Outro Portal
mesmo que se esqueçam
eu vou me lembrar
te lembrar
no meio do tufão bandeira parada
nunca fui inocente de nada
vaidade natural
vacina contra
o romantismo colonial
criminalização fundamental
básico institucional
é o amor estatal
pra abrir esse tanto de coração sem fronteira
querendo
federalizar
a dor emocional
não tem nada a ver com par
é sobre reatar
o laço é lateral
nada essencial
segure o seu fôlego e a sua alegria
dança primordial
encontre a verdade pule o muro desse
labirinto ideal
é o sintoma somático desde a carne até o beiral
do que vai adiantar negar amor se for
pra viver
qualquer outra coisa tão platônica e acidental?
solta a minha mão
me deixa ser animal
na clínica
roleta russa
só achei
linha sem ponta
agulhas atravessando o dedal
molde de papel
dobradura imperial
pra quem queria sangue
essa mente está velha
velha como a paciente
no gramado do caps olhando olhando
íris vazia
morte cultural
estou: alegre como o Fogo
consumindo tudo
no entorno e no centro
deixando só cinzas
de deleite
contentamento
satisfação muito maior
que esse perfeccionismo
pretenso inter
sec
cional
faço marcas na parede
cinzas que o vento suga
nesse espaço cerimonial
formas sem beirada
trazendo cheiros da Terra Intacta
sumindo e zunindo sou
toda calor
todo o magma desse mundo
numa única espiral