quarta, 13 de dezembro de 2023
eu era um joão-de-barro
subindo
paredes feitas das
presas
de elefantes
e lá em cima
bem no alto
pousei à janela
uma mulher branca brandia
a Espada da Poesia
e estava
dilacerando
pedaços pedaços pedaços
poema poema poesia
poética
verso estrofe prefácio
nota posfácio epílogo
o cadáver
do poema estava em seu lixo
e agora a espada fatiava
outro concreto em conceito
corte
afiado conciso e preciso
bem fundamentado e bem definido
e nisso
trincou a espada num barulho contrito
e começou a rachar da ponta até o cabo era vidro
talvez fosse
uma imitação afinal
pensei passarinho, que a poesia nem era uma espada devia
ser uma pena ou um
torrão de terra ou então
as tintas que das tripas de um polvo se esguicham
e disse: "Cuidado vai soltar-se, perdoe o aviso"
olhou pra mim como se seu inimigo
virou a espada com raiva e ela partiu para o lado caiu um estampido
soltou com ódio visível seu grito:
"Pássaros não falam!!!"
e com o toco da arma tentou me acertar mas não movi um milímetro
e talvez por isso
em cheio bateu no parapeito perfeito, de tanta brancura polido
ali mesmo
ficou e não mais conseguiu arrancar o seu precioso artifício
eu disse: "Por que não escreve você mesma a tua poesia?
Não precisa pedir que tanto se afie. Pode ser como um pano mesmo,
desses que se veste e depois ficam pra limpar o chão outro dia."
mais um grito
afinal estava errado de novo o poema e a poesia eram tão distintos
ou assim o credo dizia
eu fui indo
voei e voei e voei e foi sumindo
era só o primeiro andar daquela torre e acima
outros trinta e cinco