segunda, 13 de junho de 2022
pela sua identidade
matriz multiplicada
resta apenas
uma diagonal recortada
As primeiras ressacas ainda eram leves, quase não faziam nada no meu corpo. Depois foi crescendo cada vez mais a força sugante não do Tempo, esquecido e alinear, abinário, mas da força motora de um relógio seco, de tudo neste mundo separado.
Este pequeno tempo era uma partícula morta girando sem destino no raio de um átomo de césio.
Que adianta ter teorias para falar sobre, se este tempo é ser desperdiçado?
Do que adianta falar sobre para uma plateia que não se vê em guerra, para a qual todo tempo está parado?
Escrever foi antes sobre encontrar um ponto onde amarrar uma linha. Mas no mundo concreto, não há linhas.
Escrever foi antes sobre pensar, ou dialogar, ainda que consigo. Mas no mundo concreto não há diálogo possível, apenas performance, apenas a identidade como algo repetido.
Fico feliz pela sua alegria.
O Tempo não acompanha essa mesma via onde andam os carros. Ela não segue raciocínios. Tanto não acompanha que coisas como vias e carros, apesar de existirem, dependem de recursos insustentáveis. A que tempo pertencem? Não podem pertencer a este mesmo tempo, que vai continuar depois delas, apenas a uma ideação de que essa experiência é passageira, que este planeta é descartável pois há outros para serem explorados.
imaginação desperdiçada:
alta performance --
entre impérios doentes
relações cortadas
É nessa hora que seus olhos reviram, que minha voz se distancia no vácuo, como um fantasma.
Assim descortina como o Estado depende das catedrais onde tecnocratas lavam suas mãos. Sistemas de crenças desde há muito tempo programados para monitorar e modelar o pensamento.
O que é a saúde e a doença, que gêneros existem, quem pode habitar qual território. Quando líderes se empolgam demais, mostram como o Estado pode ser usado para praticamente qualquer coisa. É apenas um ritual, um rito de legitimação. Pode ser histórico, pode ser mortal, e pode também ter fim.
É impossível não falar sobre o conflito. Posicionar-se sempre de forma cortês, não tocar em assuntos delicados. Seguir em frente, palavras medidas, contente e autocensurada, trabalhando e estudando para ser cada vez mais eficiente em ajudar a acelerar os sonhos de gringos e seus agregados. Eu ouço uma voz dizer que é possível, mas ela vem de um lugar tão neutro que até seu vômito radicalesco é bem visto como limpo, cheiroso e digno de não ser banido.
A posição chamada adulta é uma onde reprimimos tudo e apenas fazemos todo o necessário para sobreviver. Tudo fica guardado para a confidência de alguém que nunca está lá para te ouvir e quando está tem muito para fazer além de te escutar e acolher.
Na esteira desse tempo, não há afago, carinho, abraço. Pessoas sensíveis e vulneráveis tomam muito tempo, deveriam deixar de ser assim, deveriam crescer, é isso? São como... crianças, como... gente dependente... são... inúteis! Era essa a palavra. O útil, eficaz e consistente também, sem se esquecer de sorrir e passar uma energia boa para não deixar ninguém desconfortável.
Desconfortável.
Corta para um outro tempo. Meu rosto é como uma poça d'água e meu rosto é um vulcão que a cada aleatório minuto acorda e dispara, sem pêndulo, sem volta cronometrada. Eu não sou flor atóxica, asas de fada, o esforço em ser uma boa pessoa... com uma faca bem amolada.
Pouco cuidado se teve com este nome, fizeram dele tudo que quiseram. Poetisas me ensinaram a não persistir em ser vítima de nada, nem ter medo do poder. De fazer o poder, de usar ele para revigorar quando de novo é a hora de ser reciclada. É ao mesmo tempo curta e longa a estrada. Em um planeta que pousamos, havia gente que não se afirmava, nem sequer essa peneira usava, e perguntaram para que serve essa casca.
Nada mais perfeito do que errar horrivelmente. Mas o Tempo... não é essa pressão de culpa e vergonha. O Tempo só se repara no vácuo depois da explosão. Ele é a água, e a minha língua quando a sente também vira água. Às vezes meu peito pensa na morte e chora... e às vezes se pergunta como viver agora, sem temer o desperdício. Meu pensamento é um ciclo, ele se repete, repete, repete...
Não há tempo para perseguir laudos, não há tempo para hidratar meus poros e reduzir o frizz, não há tempo para fazer a curva da sobrancelha alinhar-se com meu nariz não há tempo para saber como convencer alguém na próxima entrevista de que tenho lugar no seu plano escasso de exploração não há... tempo nem para lamentar-se.
Eu escrevi essas palavras e não há tempo para deixá-las mais interessantes. Ainda assim, já teria imensa, plena felicidade, se elas te fizessem se sentir um pouco mais aberta, que sua corpa se amolecesse por uma fração deste Tempo grande, e tudo tivesse valido a pena.
E você soubesse, ali onde nos encontramos: "nada pode ser consertado".
Este Tempo, me ensinaram, este Tempo, memória viva e memória passada, neste Tempo, não há como se arrepender de nada, tudo segue a direção -- imparável, imbatível -- de ser retransformado. É inevitável que te desfaçam, é inevitável a derrota. Deste chão inevitável é que brotam poemas e plantas, é nele que nascem suculentas e flores de morango, é nele que se refletem águas e nuvens, é nele que crescem tuberosas e espadas.
Não há para onde ir, só mesmo ser morte e ser renascimento.
Eu soquei essas palavras num pilão, e seu cheiro encheu ardendo toda minha sala. Eu servi essas palavras nas suas mãos, e águas quentes escorreram sobre ervas escaldadas. Eu embrulhei a xícara em um pano manchado de açafrão, e o vapor nublou a lente que os meus olhos enquadra.
願わく は 此の 功徳 を 以て
普く 一切 に 及ぼし
我等 と 衆生 と 皆 共 に
仏道 を 成ぜん こと を