rotina

sexta, 5 de fevereiro de 2021

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                    vibe neuroatípica
                -       siempre!       -
                     anticapitalista
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    pressa, pressão — uma mesma raiz
                da qual não nasci

    pressa, pressão... uma mesma raiz
                da qual não nasci

    pressa, pressão... uma mesma raiz
                da qual não nasci

    pressa, pressão... uma mesma raiz
                da qual não nasci

    pressa, pressão, produção... uma mesma raiz
                da qual não nasci

    pressa, pressão, produção... uma mesma raiz
                que abati

























            grita, cistriarca
             é a hora do seu espanto
            raiva dobrada cobrada
             não será mais meu o pranto













            afeto contrapiso
            no canto da parede
            tapo meus ouvidos
            não por não querer saber
            mas por ter tão abertamente
            até aqui sabido
            em excesso ter me dado
            a receber tantos ditos
            pelos olhos também
            tanto ter recebido
            privilégios achados
            separando meu lixo
            é momento de estar já
            mais que desaprendido








        não guarde a cala
    não porque assim aprendeu
        assim deve ser mantida
    não há desculpa ou uma só causa
        para os fatos desta vida

    não espere nada
        de um rosto não espere
    que se mantenha tranquilo ou alegre
    sequer o observe
    deixe ser rosto contorcido
    deixe falar o imprevisto
    deixe reclamar e xingar é um mimo
        estou falando comigo

    não recua
    não revoa
  deixe ser tudo sentido o próprio sentido
        não arrume nem cuide em excesso
      pois quem ama em excesso machuca
    não tente dar-lhe constante benefício
    como vai saber você
            o que é bom ou ruim
            para algo distinto?
         se é hora desse rosto sorrir ou chorar?
        só o próprio rosto sabe disso



        estou falando
                comigo


    deixe ser rosto a ouvi-lo
    ouça somente mesmo que
    não puder ter seu dito ouvido
    e recuse a ouvir
    se passar do seu primeiro limite
    e não do terceiro ou de algum que já esteja
      tão atravessado que nem se pode
        pedir que se explique





    é uma quase invisível linha
    que separa o soco no rosto
        de um passo de bailarina
    no tempo pode sempre
        perder a medida

    diga mais firme
        argumente e responda mas alinhe
    uma palavra gruda na outra
    o ouvido neurotípico
    é intolerante a pausas e pensamentos altivos
    quer ser respondido
        imediato desejo convulsivo


    não é a altura do grito
    não espere ser reconhecida
        não espere
        respire
        sua calma é digna
        não é burguesa, acorde bicha
        os ricos estão ansiosos
        dormem rivotril
        acordam cocaína
        compram panetones
        pra engolir patologia
        e pobres nadamos no recalque
        e na dependência autoagressiva...
        não deixe que patologizem
        a sua única saída


            sua calma, é fina

        flor orgânica, atóxica, pura resina
        é por necessidade
        por sobrevivência
        não é calma para ser guardada
        é para ser dividida
        é seu dom sua unção
        seu passo lento
        sua mão inveloz no veloz vento
            é pura salvação
        em um mundo que engole engole
        e te engole primeiro porque
        lenta é a sua pisada atípica
        torta para a esquerda pisa
    do rosto que instantâneo responda também
    deixe a palavra ser sentida
    demora até que fique cozida
        só diga e mantenha seu dizer
    não espere ser sempre acolhida
    não espere que sempre valide seu dito
    só diga e repita
        rearme, repique



    vai falando                 consigo


        a máscara brilha
                lisa e polida

    lute a luta de expelir essa dor
        ou transmutar
            ou sublimar
                em uma planta viva

            então diga
            sem remorsos
            não é culpa!
             é raiva pura
                de pura cura
                soro y antídoto
            destilada e reduzida

    há tanta gente que jamais sente essa dor
        por mais que se cutuque a ferida
    que nem liga
            não sente o que sente a bicha
    mas rápido exige de quem?
    que seja empática e compassiva
        pois...



        um só grão de arroz



                ~ ~ ~ ~


  muda mesmo - verbal mesmo - fala mesmo

    exorcise fale vocalize
        estranha palavra autista
      espaçada, demorada, antianalítica
    pura paranoia sem reputação sem malícia
        são transtornos do apego
            atrasos no desenvolvimento
    pânico! constante déficit da sua atenção
        repartida
    são
        estresses pós-traumáticos um infinito
    de diagnósticos tortos e atrasados

     afaste - não subserviente seja - diga

 segura insegura entre um polo e outro solte

    não olhe nem regule não se
     hiperrresponsabilize - ofereça segurança
    não cobre que não vinga

    com afeto tranquila ira irradia
   bandeira parada no vento tanto respira
     mesmo sem sorrir o bom transpira
    não é um dia após o outro
        se a morte é rotina
            cada dia sentindo-se
                um pouco menos viva...


        sinto
        vindo
    o dharma não-binário de mil pandakas
        cuspindo nas robes douradas
    intactas
       de um arahat horrorizado — blasfêmea aziátik
  assim nasceu maitreya jogando molotovs no Estado

    sonho...
        sonho um sonho
        sonha e realiza agora
            Tara te abraça não separa
    transparente verde a saia
        de debaixo do suco de carne e de livros
    que um titâ recolheu em seu encarte
    depois de mil anos curtindo
    soterrados por páginas tão carregadas
    os corpos
    de um mil anarquistas


    adiante!
        não é comando
    para ansiosa julgar-se essa
            poesia


    já lutou o suficiente
       para não ser apagada
    garantida agora é a hora
      de lutar mais ainda!
    fazer a coisa herdada
    ser sentida ser vivida
      pois está morta se apesar de que respira
    comendo não sente
        o gosto da comida