quinta, 27 de julho de 2023
eu ouço a sua voz e ela me deixa
inspirada
sentido o som da palavra trancestral os meus sentidos
transbordaram água
a minha voz já queria
ser ouvida
ouviu?
as minhas letras
não sei se porque
me persegue ou percebe
eu me recolho
este banheiro, um santuário
o piso tátil
quer-se acessível mas ficou barrável
perceba como
visão e visão
tão diferentes seus sentidos
sentidos
o meu amor por decreto:
despatologizar toda esta territória
inclusive aquela
toda trabalhada numa expressão
bem intencionada crítica pós-declinicada
que quer
curar pelo vazio
curar pelo fingir
quase como quem dizia
sermos todos iguais só queria mesmo não olhar
olhar
polissemia foda
sobre não querer ver
o que está e não está ali
que esta neurose que esta nervose
são só o gás subindo
pela sua imaginação pela influência
da farmácia da indústria do capital você
sua existência foi apenas um engendro para o lucro
um lamento
a minha não, Eu vivo
sou nesta pureza
minhas aflições são da natureza, e as suas
nem parecem assim tão
particulares
todos os olhos esmago
com os meus olhares
achatados
no plano plano
cristão e centrado no Homem
desde aquele gênesis até agora
Eva colhendo ervas perigosas
eu vi, eu comi
serpentes de metal
deixa-me escoar
no esmague destes certificados
corra mona corra
dependurada na vareta desta miséria
uma moeda
corra,
corra
por muito menos,
só para não falar de todes
o asco
percebo em como o seu rosto entorta
nojo eu também tenho eu estou aliás
pingando defeitos eu não podia me proteger
por esta ou aquela porta
do consultório ou do banheiro
binário do presídio ao holerite
lamento gritar farsa
mesmo assim
peço que assine essa carta
preciso fechar a conta eu ando
ansiosa derrubando o tempo
não venha não
me curar com o seu nada
com a sua não-palavra ofertando
pouco menos que ficar no não-lugar,
e calada
encripto e decripto
é automático, e sem gatilhos
se for necessário fingir eu finjo
do veneno é que se faz
saberes e antídotos
neurotóxicos,
ou neuroatípicos